Aulas bíblicas nas escolas são alvo de discussão entre parlamentares evangélicos
Por Danilo Queiroz — Agência Pública
Os intervalos bíblicos nas escolas de Pernambuco têm sido alvo de discussão intensa entre parlamentares evangélicos e cristãos conservadores. Essa prática, que agora enfrenta questionamentos por parte da Secretaria de Educação (SEE-PE), do Sindicato dos Trabalhadores da Educação de Pernambuco (Sintepe) e do Ministério Público do Estado (MPPE), gerou preocupações relacionadas à sua obrigatoriedade em algumas instituições de ensino e à falta de espaço para outras religiões.
Atualmente, existem pelo menos dois projetos de lei em tramitação na Assembleia Legislativa de Pernambuco (Alepe) que defendem os intervalos bíblicos, além de dois projetos enviados à Câmara dos Deputados pela vereadora de Recife, Missionária Michele Collins (PP). A iniciativa surgiu após denúncias de que os cultos evangélicos estariam sendo realizados nas escolas sem a participação de outras crenças.
No dia 11 de novembro, o deputado estadual Joel da Harpa (PL) organizou uma audiência pública na Alepe para debater o tema. Parlamentares evangélicos conservadores têm usado intensamente as redes sociais para mobilizar apoio, argumentando que esses encontros ajudam a afastar jovens de problemas como drogas e prostituição. A presidente do Sintepe, Ivete de Oliveira, destaca denúncias sobre cultos evangélicos realizados em escolas estaduais sem a inclusão de outras religiões.
Em resposta, o deputado estadual Abimael Santos (PL) apresentou um projeto de lei que propõe sanções administrativas para quem limitar a liberdade religiosa, prevendo multas que podem chegar a R$ 50 mil. Outro projeto de lei, do deputado Renato Antunes (PL), busca garantir espaços adequados para a realização dos intervalos bíblicos em instituições de ensino.
A Associação Nacional de Juristas Evangélicos (Anajure) também entrou no debate, solicitando o envio das denúncias ao MPPE e oferecendo orientação jurídica sobre o tema. A polêmica se intensificou quando uma audiência pública prevista para 27 de novembro foi cancelada devido à superlotação e à tensão durante o evento.
Na Câmara dos Deputados, dois projetos de lei de Michele Collins estão em análise, um deles assegurando a realização de ritos religiosos voluntários e prevendo multas para escolas que os impeçam. O deputado federal Pastor Eurico (PL-PE) também tem defendido a discussão sobre os intervalos bíblicos em nível nacional.
O casal Clarissa Tércio e Júnior Tércio, políticos em Pernambuco, tem acompanhado de perto os intervalos bíblicos nas escolas da Região Metropolitana do Recife, incentivando a prática e convidando jovens evangélicos para participar de programas em rádios evangélicas locais.
A mobilização nas redes sociais tem sido intensa. A audiência de 11 de novembro, organizada pela Comissão de Segurança Pública e Defesa Social da Alepe, contou com a presença de representantes da Polícia Militar de Pernambuco, Corpo de Bombeiros e outros políticos conservadores. O pastor Edvar Gimenez, convidado para a audiência, defende que os intervalos bíblicos sejam voluntários e supervisionados pelas escolas.
Joel da Harpa tem se posicionado contra o que considera perseguição aos intervalos bíblicos, enquanto o Coletivo Bereia refutou informações enganosas sobre o cerceamento da liberdade religiosa. A conta no Instagram ‘Juntos pelo IB’ foi criada para apoiar a causa, reunindo relatos de estudantes e promovendo um abaixo-assinado em defesa da liberdade religiosa.
O pastor Teo Hayashi, próximo a Bolsonaro, também tem abordado o tema, acusando o Sintepe de perseguição cristã e incentivando jovens evangélicos a se posicionarem em defesa de sua fé.
Magali Cunha, do Coletivo Bereia, observa que a educação se tornou um alvo da ofensiva conservadora, especialmente durante o governo Bolsonaro, quando o Ministério da Educação foi estratégicamente utilizado para aproximar o conservadorismo das escolas.
Candomblé foi proibido em escola pública
Relatos de discriminação contra praticantes de candomblé em escolas públicas também surgiram, como no Erem Confederação do Equador, em Paudalho, onde estudantes relataram ofensas por sua religião. Na Escola Técnica Estadual Aderico Alves de Vasconcelos, em Goiânia, houve resistência à realização de intervalos de candomblé, enquanto os evangélicos e católicos continuaram.
Professores relataram que a discriminação religiosa tem se intensificado, com estudantes evangélicos promovendo resistência a aulas sobre cultura negra. Na Erem Confederação do Equador, a obrigatoriedade da participação em eventos católicos gerou críticas, destacando a necessidade de respeitar a laicidade do Estado.
As direções das escolas foram contatadas, mas não responderam até a publicação desta reportagem.
Fonte: https://iclnoticias.com.br/intervalos-biblicos-em-escolas/